segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Depende da perspectiva

Ainda estou a tentar perceber qual a minha relação com a chuva, por norma resisto e utilizo o comboio em vez da bicicleta. Mas, da última vez que fiz isso, arrependi-me, senti falta de começar os primeiros 30 minutos ao ar livre, de apanhar com o vento na cara e de ouvir as "parvoíces" da Rádio Comercial que fazem com que sorria e por várias vezes esse sorriso coincide com a passagem de outro ciclista em direcção contrária, que me devolve o sorriso. O resultado é que chego sempre ao meu destino cheia de energia, o que não acontece quando vou enlatada no comboio.

Por isso, neste estado de apaixonamento pela chuva (só previam chuva para a tarde), saí sem hesitar com a minha linda Gazelle.

Na hora de regressar, a previsão estava certa e chovia, não a "potes" mas, os chamados chuviscos. Após esta primeira avaliação decidi não vestir as calças para chuva, para além de serem muito feias, serem médio/baixo impermeáveis, ainda me fazem suar. Olhei para o selim e pensei que tinha  mesmo de arranjar uma protecção... Lá me sentei e como foi impossível retirar totalmente a água do selim, senti aquele desconfortozinho... mas, segui. O pior estava para vir. Passados uns metros já a minha visão estava bastante alterada pois os meus óculos estavam cheias de gotas de água (nesta altura pensei que era mesmo fixe ter umas escovas, do tipo limpa-para-brisas mas, numa versão de óculos) e para piorar a situação a intensidade da chuva aumentou o que me obrigou a colocar o capuz do casaco. Tenho então, de lidar com a pouca visibilidade dos óculos que entretanto também começam a escorregar pelo nariz, com o capuz que me faz sentir como um "burro com palas" e as calças de ganga que começam  a ficar demasiado molhadas. Decido então, vestir as ditas calças impermeáveis. Tal como previsto, começo a transpirar e para além de os óculos estarem cheios de água começam também a embaciar. Resolvo tirá-los, fico espantada com a pouca melhoria que tenho na visibilidade as minhas 2.5 dioptrias em cada olho, fazem sentir-me uma pessoa que vê mesmo mal... Contínuo a pedalar sem os óculos à espera que melhore (?) quando passo por umas senhoras (só sei o género pelo tom de voz, porque estava a ver mesmo mal) e oiço elas comentarem: "Ele, há malucos para tudo".

Não perco muito tempo a pensar naquilo, até porque as calças são mesmo feias e a humidade não se dá lá muito bem com o meu cabelo... Sigo em direcção ao meu destino, quando me deparo com uma enchente de pessoas junto ao Pavilhão Atlântico, agora chamado de Meo Arena. Centenas de cidadãos estão ali à chuva e ao frio a cantar as canções que irão ouvir no Concerto da Lady Gaga (dali a pelo menos 4 h) e penso com os meus botões: "Ele, há malucos para tudo".